No editorial intitulado “Depoimento de Bolsonaro deixou claro por que ele deve ser condenado”, o Grupo Globo abandona o jornalismo para vestir a toga de acusador. Trata-se de um texto que, longe de demonstrar qualquer prova objetiva de crime, utiliza construções retóricas, interpretações enviesadas e frases de efeito para defender uma condenação antecipada do ex-presidente Jair Bolsonaro. Vamos aos fatos, ponto por ponto. Primeiro, a premissa central do editorial é contraditória: se Bolsonaro confirmou os fatos da investigação da Polícia Federal, por que a PF até agora não apresentou uma única prova de crime tipificado? Conversar com comandantes militares, como ele mesmo afirmou ter feito, não constitui golpe nem conspiração, mas uma prerrogativa política e institucional, especialmente em momentos de instabilidade. Questionar o processo eleitoral — como já o fizeram outros candidatos e partidos em momentos distintos — está dentro do campo da liberdade de expressão e do debate democrático.
Ao dizer que Bolsonaro tratou de “alternativas” com os comandantes, o editorial sugere um crime implícito, mas esquece de dizer que essas alternativas foram descartadas. Não há registro de ordens, movimentações de tropas, uso de força ou ação concreta para impedir a posse de Lula. Nenhuma tentativa real de ruptura se consolidou, e tampouco há evidência material de que tenha sido sequer iniciada. O que temos, no máximo, é especulação, reuniões políticas e documentos apócrifos — que, vale lembrar, não foram assinados ou implementados. Chamar os “considerandos” de artifício para encobrir um golpe é atribuir má-fé a um rascunho informal, nunca levado adiante. O próprio ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, afirmou que se tratava de um estudo, e que não houve continuidade ou adesão dos comandantes militares. Aliás, o fato de Freire Gomes e Baptista Júnior não terem aderido é exatamente a prova de que não havia unidade, plano viável ou adesão institucional para qualquer ruptura — o que desmonta, por si só, a tese de golpe iminente. O trecho sobre o humor no depoimento revela mais sobre a má vontade dos editores do que sobre o ex-presidente. Criticam Bolsonaro por tentar suavizar o ambiente com uma piada, mas silenciam sobre a gargalhada de Moraes, juiz da causa, o que é ainda mais inadequado sob a ótica da imparcialidade. Se Bolsonaro tivesse feito um discurso sisudo, diriam que era arrogante; se pede desculpas, acusam-no de oportunista. Não importa o tom, o julgamento da mídia já está decidido.
Quanto à suposta retratação “tardia” sobre insinuações envolvendo ministros do STF, Bolsonaro foi claro: reconheceu o erro, assumiu a responsabilidade e reforçou que se tratava de um desabafo — não de uma acusação formal. Mas, nesse tribunal paralelo da imprensa, admitir um erro é mais uma prova de culpa do que um gesto de responsabilidade. No fim, o editorial da Globo ignora um princípio elementar do Estado de Direito: ninguém pode ser condenado com base em intenções presumidas, frases soltas ou desabafos gravados sem autorização. A Constituição não criminaliza reuniões nem dúvidas. E, goste-se ou não de Bolsonaro, ele ainda não foi julgado. O que está em julgamento, de fato, é a capacidade da imprensa de informar com responsabilidade — algo que o texto da Globo definitivamente não faz.
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